quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Inocêncio elogia a trajetória de Eduardo Campos


Na Sessão Solene que homenageou Eduardo Campos, o deputado Inocêncio Oliveira (PR_PE) disse que o ex-governador de Pernambuco "enriqueceu o legado político" de Miguel Arraes. "A morte trágica e precoce privou o Brasil de uma das revelações mais promissoras das novas gerações de políticos", disse.

Como governador, lembrou Inocêncio, Eduardo Campos abraçou a causa da interiorização do desenvolvimento, investiu na ampliação da rede hospitalar, implantou empreendimentos estruturadores  no complexo industrial de Suape, fez crescer o índice de educação básica em 14,8%, "duas vezes superior à média nacional", criou escolas de curso integral, "superando os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro juntos", além de gerar mais de 600 mil empregos diretos com carteira assinada.

Isso tornou Campos o governador bem mais avaliado do país, disse. "Assinalo com profundo pesar o momento doloroso diante da perda deste homem público de dimensão elevada, pai exemplar, personagem que já faz parte da galeria dos brasileiros mais admiráveis do nosso tempo. Ele deixou um sentimento de orfandade no coração dos seus entes queridos e da sociedade pernambucana e brasileira". 




Fonte:

Jornal da Câmara, em 04/09/2014

Sessão Solene em Homenagem póstuma ao escritor Ariano Suassuna

16 de junho de 1927 -ARIANO SUASSUNA - 23 de julho de 2014



 Foi realizada nesta quinta-feira, uma Sessão Solene em Homenagem Póstuma ao escritor Ariano Suassuna. A Sessão foi requerida por mim, e contou com a presença de um número grande de pessoas, entre  autoridades, amigos e familiares dos saudosos Ariano Suassuna e Eduardo Campos. A seguir, o discurso que pronunciei:


O SR. INOCÊNCIO OLIVEIRA (Bloco/PR-PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Paraibano de nascença, pernambucano por adoção, sertanejo telúrico e de coração, o escritor Ariano Suassuna faz parte da galeria dos brasileiros mais admiráveis do século 20 e neste advento do século 21. Ele lutou o bom combate em favor dos autênticos valores culturais, das tradições e das manifestações mais genuínas do nosso povo e da nossa terra.

Nasceu na cidade de Parahyba, atual João Pessoa, capital do Estado da Parahyba, em 1927. Sendo o pai João Suassuna presidente (designação na época para o cargo de governador) da Parahyba, a mãe Rita de Cassia Vilar deu à luz no Palácio da Redenção, sede do Governo.
Existem dois episódios marcantes na infância de Ariano Suassuna e que estão relacionados com a Revolução de 1930: o assassinato do governador paraibano João Pessoa, em 26 de julho de 1930, na cidade de Recife; e a morte do pai, ex-presidente (designação para o cargo de governador na época) da Parahyba e na época deputado federal, em 9 outubro de 1930, na Capital da República, Rio de Janeiro. As duas famílias eram rivais na política. João Pessoa havia sido indicado candidato a vice-presidente da República na chapa oposicionista de Getúlio Vargas e sua morte foi considerada o estopim que fez eclodir a Revolução comandada pelo caudilho gaúcho. O assassinato de João Suassuna ocorreu em meio às repercussões causadas pela morte do seu adversário João Pessoa, sobrinho do ex-presidente da República, Epitácio Pessoa.
Órfão de pai aos três anos de idade, Ariano foi morar com a família na fazenda Acauã, no Sertão do Estado, município de Sousa. No período de 1933 a 1937 a família Vilar Suassuna fixou residência nos sertões de Taperoá, onde na vida adulta Ariano mantinha uma fazenda com a criação de bodes e cabras. Este universo sertanejo impregnou toda sua vida, sua produção intelectual e seus personagens. Foi de meu pai, João Suassuna, que herdei, entre outras coisas, o amor pelo sertão, principalmente o da Paraíba, e a admiração por Euclides da Cunha, revelou o autor do Auto da Compadecida.
A iniciação ao mundo literário aconteceu nos sertões paraibanos, ainda na infância, quando Ariano assistiu a apresentações de violeiros e repentistas, o que seria fonte de inspiração em sua vida intelectual. Na adolescência, em 1942, a família transferiu-se para Recife e o jovem Ariano frequentou os bancos escolares do Ginásio Pernambucano, Colégio Americano Batista e Colégio Osvaldo Cruz. Em 1946 ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde graduou-se em 1950.
Vem dessa época sua amizade com Hermílio Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante do Recife e posteriormente, em 1959, o Teatro Popular do Nordeste, com projeção e influência na dramaturgia nacional. Sua primeira peça teatral, Uma mulher vestida de sol, foi escrita aos 20 anos e a partir daí deu sequência a uma fértil produção literária, O Auto da Compadecida, de 1955, consagrou o autor como um dos mais importantes da dramaturgia nacional. Em paralelo exercia a advocacia profissional.
Em 1956 o advogado Ariano Suassuna decidiu trocar a profissão pelo magistério, como professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco. Essa opção lhe permitiu dedicar mais tempo às suas atividades literárias e assim escreveu uma série de peças teatrais e romances que o notabilizaram no mundo intelectual brasileiro.
Junto com o Auto da Compadecida, o Romance d'A Pedra do Reino é considerado a sua obra mais importante, entre dezenas do seu vasto acervo teatral, de romances e poesia. Membro fundador do Conselho Federal de Cultura, órgão consultivo do Governo Federal, Ariano foi o idealizador em Recife, no início da década de 1970, do Movimento Armorial, de valorização das nossas manifestações culturais populares e busca de nossas afinidades ibéricas. Sob a influência dele, esse movimento agregou artistas e intelectuais de vários campos, na música, teatro e literatura.
O autor do romance A Pedra do Reino e do Auto da Compadecida resgata em sua obra as raízes ibéricas das nossas tradições e costumes e projeta os valores da cultura popular nordestina, na defesa e na construção da nossa identidade cultural, O legado de Ariano revela fidelidade ao princípio do escritor russo Leon Tolstoi, do século 19, segundo o qual Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.
A influência de Ariano Suassuna nas artes brasileiras vai além dos livros e dos textos, como autêntico guerreiro cultural. Suas obras foram traduzidas para vários idiomas.
Ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 1990, confessou que sua memória esteve sempre voltada na busca pela figura paterna: Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo, oferecendo-lhe esta precária compensação e, ao mesmo tempo, buscando recuperar a sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das palavras que o pai deixou.
Declarou certa vez que quando ultrapassou a idade que havia sido vivida pelo pai, 44 anos, procurou encontrar um pai caçula entre as personalidades com quem conviveu, realizando uma espécie de idealização psicológica para compensar a perda afetiva.
As recordações brotam em forma de poesia: 
Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibão,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.
Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordão,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O Sangue, o riso e as mortes do Sertão.
Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.
Sua efígie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado.
Um dado sintomático é que Ariano mantinha fidelidade à designação Parahyba, capital do Estado da Paraíba, ao invés do nome adotado oficialmente pela Assembleia Legislativa em 4 de setembro de 1930 numa homenagem ao ex-governador assassinado João Pessoa.
O mestre Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte, no Sertão do Pajeú de Pernambuco, onde se realiza a cavalgada inspirada no Romance d'A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre com as imagens de Jesus, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Uma de suas principais bandeiras era a luta contra as invasões culturais alienígenas e os estrangeirismos. As famosas aulas espetáculos conquistavam plateias em todo o País. Nesses momentos ele exercia a sua criatividade e bom humor, à moda de um Dom Quixote, personagem emblemático de Miguel de Cervantes, um dos seus autores prediletos na literatura universal. Em tom de ironia, costumava dizer: Não troco meu oxente pelo okay de ninguém.
O coração de Ariano pulsava ao som do repente dos violeiros e repentistas nordestinos. Membro das Academias Pernambucana e Brasileira de Letras, com projeção nacional e até internacional, conservou os laços culturais e afetivos com os sertões de Taperoá na Paraíba e do Pajeú em Pernambuco.
Presidente de honra do Partido Socialista Brasileiro em Pernambuco, foi também secretário de Cultura e chefe da Assessoria Especial do Governo do Estado. Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco, cidadão de classe média, Ariano e sua esposa Zélia moravam num casarão de estilo colonial no bairro de Casa Forte, em Recife, em cuja varanda se debruçava uma rede de dormir à moda interiorana.
Este foi o artista admirável com quem tive a honra de privar da amizade e ouvir dele estórias formidáveis do seu universo encantado. Reverencio a memória deste brasileiro e sertanejo autêntico, cidadão sem fronteiras, cujo legado humanístico e cultural ergue-se como bandeira para todas as gerações.
Era o que tinha a dizer.